MUSIC BUSINESS: Será que o novo grupo pop global do Simon Fuller consegue emergir triunfantemente num cenário caótico da indústria musical?

Simon Fuller revelou mais detalhes sobre seu novo projeto musical, o Now United, confirmando a parceria do grupo com a gigante de tecnologia B2B SAP - ao mesmo tempo em que oferece algumas observações instigantes sobre o negócio da música moderna com streaming.

Alicia Tillman e Simon Fuller

Now United é, segundo Fuller, um “grupo pop global”, composto por 14 adolescentes, cada um de um país diferente. Falando no palco do Mobile World Congress no Los Angeles Convention Center, dia 13 de setembro, Fuller explicou que “dentro de cada país haverá uma comunidade de fãs do Now United que podem aprender a dançar, cantar e viver através do grupo."

Um ponto crucial para este plano, ele explicou, seria se juntar à SAP para revolucionar o engajamento dos fãs. A SAP, uma empresa de software corporativo que faturou € 23,46 bilhões no ano passado, é parceira de patrocínio/tecnologia de importantes franquias esportivas como o New York Knicks, o Manchester City Football Club, o New York Yankees e o FC Bayern Munich, além da NBA e NHL. O acordo com  Fuller e o Now United representa o primeiro grande passo da SAP para trabalhar diretamente na indústria musical (embora tenha uma parceria existente com a Live Nation).

Fuller confirmou que, para recrutar os 14 jovens da Now United,  ele empregou 20 pessoas para viajar pelo mundo durante 18 meses, realizando audições com grupos de 10 a 20 pessoas de cada vez. "Eu diria ousadamente que ninguém nunca fez uma pesquisa de talentos a par com isso", disse ele.

A fim de cumprir as ambições de Fuller, é claro, o Now United terá que romper um dos mais ruidosos cronogramas de lançamentos de artistas que o mundo já conheceu - com aproximadamente 20.000 faixas sendo carregadas para o Spotify diariamente. Não é um desafio que Fuller esteja encarando de ânimo leve, embora o amplamente respeitado gerente de talentos britânico afirme que ele não está deliberadamente definindo as esperanças do Now United em relação ao Spotify e ao Apple Music.

Eu diria que ninguém nunca fez uma busca de talento por aí.

A música do Now United será disponibilizada gratuitamente nas próprias plataformas da web do grupo, além do YouTube. "Todo mundo acha que temos que estar com os serviços de streaming", disse Fuller, que foi entrevistado ao lado da diretora de marketing da SAP, Alicia Tillman. 

Eu desafio isso. Mesmo que seja verdade, quero aprender isso por mim mesmo.

Now United

Fuller ofereceu opiniões fortes sobre a ideia de que as principais equipes da gravadora A & R estão sendo lideradas pela forma como os consumidores costumam ouvir música em serviços de streaming. "A música está passando por turbulências, confusão", disse ele.

Temos plataformas que transmitem música… mas na verdade todas essas empresas incríveis estão realmente preparadas para atender às suas próprias necessidades. Como: vamos ser pegajosos; vamos monetizar; vamos atender nossos anunciantes dizendo que essa é a demonstração, esse é o gênero, por quanto tempo gostamos de ouvir música. Isso me deixa louco.

Fuller acrescentou: "Tendo trabalhado com artistas durante toda a minha vida, acho que voltou à frente. Quer dizer, eu não posso imaginar o que os Beatles teriam dito se um vendedor dissesse: 'A música é muito longa' ou  'Essa batida está errada'."

Eu sei que gostamos de sentir que este mundo está todo lá para todos,  mas, na verdade, realmente não é. As regras são mais agressivas agora do que nunca.

A parceria da SAP criará novos engajamentos voltados para os fãs, explicou Fuller, ampliando a criação musical e fornecendo informações para futuros membros do grupo, locais de turnê, estilos de mercadoria e tutoriais para os fãs compartilharem e interagirem com a banda em tempo real.  "Acreditamos que há uma oportunidade única de usar a tecnologia para promover a união entre os fãs através de uma paixão compartilhada na música e na dança", disse Tillman, da SAP.

Tanto o Now United quanto a Simon Fuller reconhecem o impacto transformador que a tecnologia pode ter na maneira como o grupo se envolve com seus fãs e estamos entusiasmados por fazer parte de seu sucesso futuro.

Ela acrescentou: “Quando tive a incrível oportunidade de conhecer Simon e ouvir a visão, ouvi exatamente o que está no centro da SAP. Enquanto na superfície podemos parecer muito diferentes, somos de fato muito parecidos. Temos sonhos para fazer coisas que nunca foram feitas antes e para unir o mundo. Para mim, isso seria tecnologia e, para Simon, seria música e dança."

Entrevistado por Shirley Halperin, da Variety, Fuller disse que o acordo com a SAP foi parte de um plano para alcançar o verdadeiro engajamento do Now United entre uma audiência mundial de centenas de milhares.

"Estamos maravilhados com plataformas incríveis e vastas, mas não tenho certeza se elas podem ficar ainda maiores", comentou Fuller. "Só há uma maneira pela qual a tecnologia vai - o que é pequeno. Há 7 bilhões de pessoas no planeta, mas você só precisa de algumas centenas de milhares para ser apaixonado do ponto de vista artístico."

Neste momento, a indústria da música é tão estéril como sempre foi , e a ironia é que nunca houve música tão boa.

Fuller também desafiou a ideia de que os jovens consumidores hoje só queriam conteúdos de curta duração. "Talvez essa seja a regra para as massas, mas eu também ouço que os jovens bebem programas de TV por horas e horas de cada vez, ou ficam atrás de um console de jogos por dias", ressaltou. Ele acrescentou:  "Todo mundo diz que o álbum está morto. Mas ouvir uma grande parte da música não está morto."

É só porque não temos a oportunidade de ouvir o álbum ou o que quer que, digamos ... as músicas pop das playlists são curtas. Estamos sendo programados para ouvir conteúdo de forma curta.

Fuller é uma figura lendária nos círculos de negócios da música, é claro. O fundador da XIX Entertainment administrou todos, desde as Spice Girls a Annie Lennox, Amy Winehouse, Steven Tyler e Carrie Underwood durante sua carreira.

No palco, ele questionou o nível de engajamento que os artistas modernos estão recebendo nas plataformas sociais, sugerindo que apesar de amar o Instagram,  "Eu tenho amigos com 50 milhões de seguidores, mas o engajamento é meio por cento… Século 21, então eu vou passar."

Ele acrescentou: "Há uma frase antiga: 'Eu fiz isso, vi, peguei a camiseta'. Agora, ninguém chegou nem perto de pegar a camiseta. É: 'Olhei para ele por 5 segundos e segui em frente'. Isso não é porque a humanidade perdeu sua alma. É porque isso é o que nos é dado. Eu quero um envolvimento mais profundo."

Fuller claramente não está convencido pela ideia de que todo artista requer uma massa de público mundial na casa dos bilhões. Now United, ele confirmou, permanece sem assinatura de uma gravadora tradicional.

Conheço compositores que obtêm um bilhão de visualizações ou um bilhão de fluxos, e sei o que estão ganhando. Eu poderia gerar muito mais dinheiro para eles com 100.000 fãs ativos e apaixonados - então por que estamos tão empolgados quando um artista atrai 500 milhões de visualizações ou streams?

Se o Now United pudesse atrair esta apaixonada base mundial de fãs, disse Fuller, ele está confiante de que uma série de oportunidades comerciais se abriria, especialmente através do acordo que o grupo tinha com a SAP.

"Acho que a grande resposta é patrocínio, é um grande gerador de receita", disse ele, observando que a indústria esportiva estabeleceu um relacionamento mais lucrativo com patrocínio do que com a indústria musical: "Sim, nós vendemos ingressos para um estádio e você conteúdo a ser visualizado, mas o patrocínio é o fluxo de receita. Essa é uma área em que a música não chegou nem perto disso."

Fuller disse esperar um lançamento público do Now United no início de 2019, que será "razoavelmente convencional", antes de elogiar a SAP por estar "na vanguarda da tecnologia".

"A única coisa que não temos mais na música é a hora de evoluir e aprender", disse ele. "Este projeto é tudo sobre isso."

FONTE

Tradução e Adaptação: Gislaine de Sá | Uniters Brasil